À medida que o fim do ano se aproxima, muitas pessoas se veem tomadas por uma mistura de expectativas, balanços e comparações silenciosas. Dezembro costuma carregar a sensação de que tudo precisa ser concluído, resolvido ou transformado antes que o calendário vire.
Surge, então, a cobrança por metas não alcançadas, pela produtividade idealizada e por uma espécie de “fechamento perfeito” que raramente corresponde à experiência real.
Entretanto, nem todo ciclo precisa se encerrar em dezembro. Alguns processos simplesmente exigem mais tempo; outros se transformam ao longo do caminho; e muitas vivências não cabem dentro da lógica linear de calendários e metas. Do ponto de vista fenomenológico, é fundamental reconhecer que cada pessoa experimenta o tempo a partir de sua própria história, ritmo e possibilidades. Não há um único modo correto de atravessar esse período.
A urgência de recalcular a rota; ou de começar tudo de novo; pode, muitas vezes, ser expressão de cansaço acumulado, e não necessariamente de falta ou falha.
Reajustar caminhos faz parte do processo de existir e não deve ser interpretado como retrocesso. Ao contrário, é um gesto de cuidado consigo mesmo: uma forma de reorganizar prioridades de acordo com aquilo que, de fato, faz sentido.
Também é importante considerar que o fim do ano não representa, para todos, um período festivo. Datas comemorativas podem despertar sentimentos ambíguos — saudade, exaustão, melancolia, expectativas familiares, pressões financeiras ou emocionais. A fenomenologia nos lembra que os sentimentos não obedecem ao calendário: eles aparecem como são, quando precisam, e não quando “convém”.
Diante disso, talvez a pergunta mais honesta para este período não seja “o que ainda falta cumprir?”, mas “como tenho vivido o que se apresentou?”. Escutar-se é um movimento essencial, especialmente em tempos marcados por urgência e comparação. Permitir-se pausar, descansar e observar o próprio caminho é uma forma legítima de seguir adiante.
Não é necessário esperar janeiro para recomeçar; tampouco é preciso terminar o ano com conclusões grandiosas. Às vezes, o que o momento pede é apenas presença: estar onde se está, reconhecer o próprio esforço e tratar-se com a gentileza possível.
O fim do ano pode ser menos sobre cobrança e mais sobre continuidade. Menos sobre metas e mais sobre significado. Menos sobre resolver o que falta e mais sobre acolher o que foi vivido.
Que este período possa ser atravessado com calma, consciência e a liberdade de seguir no próprio ritmo: seja retomando, pausando ou simplesmente respirando.




