A procrastinação pode ser um sintoma que tenta resolver a necessidade da ação de escolher algo, pois toda escolha envolve a renúncia de todas as outras possibilidades não escolhidas.
Quando tenho dez opções, ao escolher uma, a única certeza que tenho é que perdi as outras nove; assim, não há garantia de que aquilo que foi escolhido dará certo. O neurótico se angustia com a incerteza de não saber se vai ganhar ou perder.
Por um lado, prefere manter a dor da angústia conhecida através de suas dúvidas; por outro, procrastina-a-DOR de se responsabilizar por uma escolha e enfrentar a certeza de dar certo ou não. Através da dúvida, é possível manter-se preso na certeza de não saber, já a escolha leva à certeza da realidade, que pode ou não ser agradável ao nosso narcisismo.
Lacan dizia que “agir é arrancar da angústia a própria certeza”. Viver pode gerar dúvidas e incertezas sobre aquilo que se deseja; questionamentos que se erguem como obstáculos à implicação e à responsabilidade no próprio desejo.
Afinal, desejar é uma aposta arriscada que leva ao incerto e ao desconhecido, e isso inevitavelmente pode gerar medo. Toda escolha envolve a renúncia das possibilidades não escolhidas, assim como a ausência de garantias sobre o que foi escolhido.
O neurótico se angustia com a incerteza de não saber se vai ganhar ou perder; se vai dar certo ou errado; se navega ou naufraga; se nada ou afunda. Uma das formas de lidar com essa incerteza é manter a dor da angústia conhecida através das dúvidas, afinal, isso procrastinaDOR de se responsabilizar por uma escolha e enfrentar a realidade do “dar certo ou não”.
A dúvida permite permanecer preso na certeza de não saber; já a escolha conduz à certeza da realidade, que pode ou não ser agradável ao nosso narcisismo.
Na análise, o analista surge como aquele que não decide pelo sujeito, mas que promove o ato de corte que desestabiliza a procrastinação e desmonta a arquitetura das dúvidas que servem de refúgio. Ao interpretar, pontuar, sustentar o vazio ou fazer existir um limite no discurso, o analista introduz uma fenda no circuito da procrastinação, abrindo espaço para que o sujeito possa, enfim, agir.



