Falar sobre saúde mental no trabalho é cada vez mais importante, especialmente porque muitas pessoas ainda têm dificuldade em identificar quando estão apenas passando por um momento de estresse ou quando já entraram em um estado mais profundo de esgotamento, como o burnout. Embora os dois termos apareçam juntos com frequência, eles representam experiências muito diferentes e precisam ser compreendidos para que cada pessoa saiba buscar o cuidado adequado.
O estresse, por exemplo, faz parte da vida. Ele é uma resposta natural do corpo diante de desafios, ameaças ou demandas intensas. Em situações pontuais — como uma entrega urgente, uma reunião decisiva ou um dia particularmente cheio — o corpo libera substâncias que aumentam o foco, aceleram batimentos cardíacos e preparam a mente para reagir. Isso, em curto prazo, pode até ser útil. O problema começa quando esse estado passa a ser frequente, quando não há pausas adequadas ou quando o corpo não consegue retornar ao equilíbrio depois da demanda.
Ainda assim, o estresse tende a ser passageiro: depois de um descanso, as emoções e o corpo geralmente se recuperam.
O burnout, por sua vez, não é “muito estresse” — ele é um esgotamento que se instala aos poucos, após longos períodos de sobrecarga, pressão contínua e falta de recuperação. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma doença ocupacional desde 2022, o burnout tem crescido de forma alarmante.
No Brasil, estudos mostram que o país está entre os líderes mundiais em casos diagnosticados. O grande marco que diferencia burnout de estresse é que o descanso deixa de funcionar. Finais de semana, feriados ou férias já não são suficientes para repor energia.
A exaustão do burnout aparece no corpo, nas emoções e no comportamento. Muitas pessoas relatam cansaço extremo mesmo depois de dormir, dores musculares constantes, problemas digestivos, insônia ou sonolência excessiva. No campo emocional, podem surgir irritabilidade persistente, apatia, crises de choro, sensação de fracasso e perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas. No comportamento, observa-se queda de produtividade, procrastinação, isolamento, dificuldade de concentração e, em alguns casos, aumento do consumo de álcool, cigarros ou medicamentos como uma tentativa de “aguentar”.
No dia a dia, a diferença entre estresse e burnout pode ser observada em detalhes simples. Uma pessoa estressada normalmente sente alívio quando a situação que a pressionou é concluída. Já alguém em burnout não encontra motivação nem mesmo depois de um bom descanso. No corpo, o estresse gera sintomas que vão embora; no burnout, eles se tornam constantes. Nas emoções, o estresse pode provocar irritação momentânea; no burnout, surge um vazio que não passa.
Até a vida pessoal é impactada: quem está apenas estressado consegue aproveitar um jantar, assistir algo leve ou conversar com alguém que gosta. Quem está em burnout, muitas vezes, perde energia até para atividades simples.
A boa notícia é que há caminhos para prevenir o burnout — e eles começam com hábitos pequenos, mas consistentes. Fazer pausas ao longo do dia, mesmo que curtas; movimentar o corpo regularmente; manter alimentação equilibrada; priorizar o sono; estabelecer limites claros no trabalho; praticar mindfulness por alguns minutos; cultivar hobbies leves; e buscar apoio quando necessário. Todos esses passos ajudam a reduzir a sobrecarga e fortalecer o corpo e a mente contra o esgotamento.
Cuidar de si não é luxo e muito menos egoísmo — é uma necessidade. Quando aprendemos a reconhecer nossos sinais de alerta e incluir na rotina práticas que nos mantêm bem, criamos não só uma vida mais equilibrada, mas também mais sustentável em termos de saúde mental, produtividade e qualidade de vida. Estresse todos nós sentimos; burnout, ninguém deveria sentir sozinho.



