No meu trabalho clínico — especialmente nos atendimentos online — observo que muitas pessoas chegam com queixas relacionadas à ansiedade. Embora muito comum, a ansiedade ainda é cercada por dúvidas e, muitas vezes, tratada como “fraqueza” ou “frescura”. Por isso, é importante compreender o que realmente é a ansiedade, quando ela se torna um transtorno e como o acompanhamento psicológico pode ajudar.
O que é a ansiedade
A ansiedade é uma resposta natural e necessária do organismo diante de situações de risco, mudança ou desafio. Ela nos prepara para agir e lidar com o que está por vir. Em níveis adequados, a ansiedade é funcional, considerada como normal — quando ajuda a manter o foco, a concentração e a produtividade.
O problema surge quando essa resposta é intensa, frequente e é desproporcional à realidade, gerando sofrimento e prejuízo na rotina. Nesse ponto, a ansiedade passa a ser considerada patológica, caracterizando um transtorno de ansiedade.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, APA, 2014), os transtornos de ansiedade envolvem medo e preocupação excessivos, acompanhados de sintomas físicos e evitação de situações que provocam desconforto, consequentemente prejudicando a rotina e a convivência, com os familiares e os demais que o cercam.
Tipos de transtornos de ansiedade
Entre os principais tipos de ansiedade descritos na literatura clínica, estão:
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): preocupação constante e excessiva com diversos aspectos da vida, mesmo quando não há motivo aparente.
Transtorno de Pânico: crises súbitas de medo intenso, acompanhadas de sintomas físicos como falta de ar, palpitações, tremores e sensação de perda de controle, os sintomas variam de acordo com o organismo de cada um.
Fobias específicas: medo irracional diante de situações, objetos ou animais específicos, como altura, dirigir, falar em público, entre outros.
Transtorno de Ansiedade Social: medo de ser julgado ou avaliado negativamente em situações sociais ou de desempenho.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): presença de pensamentos repetitivos (obsessões) e comportamentos compulsivos realizados para aliviar a ansiedade.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): ocorre após vivenciar ou testemunhar eventos traumáticos, com lembranças invasivas, pesadelos e hipervigilância.
Quando a ansiedade pode aparecer
A ansiedade pode se manifestar em momentos de grande pressão, mudanças de vida, sobrecarga de responsabilidades, situações traumáticas, problemas de saúde, dificuldades financeiras ou familiares, entre outros contextos.
Fatores biológicos, psicológicos e ambientais costumam estar associados. Em algumas pessoas, há predisposição genética, enquanto em outras o gatilho é o acúmulo de estresse ou experiências negativas.
Consequências da ansiedade não tratada
A ansiedade não tratada pode afetar profundamente a qualidade de vida, resultando em:
- Insônia ou sono irregular;
- Irritabilidade e impaciência;
- Dificuldade de concentração;
- Sintomas físicos (taquicardia, falta de ar, tensão muscular, dores de cabeça);
- Cansaço constante;
- Isolamento social;
Risco aumentado de depressão.
A longo prazo, o corpo e a mente entram em estado de alerta constante, o que pode comprometer o funcionamento emocional e até físico da pessoa.
Quando procurar um(a) psicólogo(a)
É importante buscar acompanhamento psicológico quando:
- A ansiedade interfere na rotina, no trabalho ou nos relacionamentos;
- Há pensamentos recorrentes e difíceis de controlar;
- Você sente que está sempre “no limite” ou em estado de alerta;
- Evita situações por medo de sentir ansiedade;
- Os sintomas físicos e emocionais estão causando sofrimento.
A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), tem forte evidência científica no tratamento da ansiedade. Ela auxilia na identificação dos gatilhos, na reestruturação de pensamentos disfuncionais, também chamados de distorções cognitivas ou pensamentos automáticos negativos (são padrões de pensamentos irracionais, imprecisos e negativos que contribuem para emoções dolorosas e comportamentos prejudiciais) e no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento saudáveis, promovendo mais equilíbrio e bem-estar emocional.
Em alguns casos se faz necessário o auxílio de um profissional da psiquiatra. Casos com alguns aspectos como:
- Os sintomas são muito intensos e recorrentes;
- Há crises de pânico frequentes;
- O sofrimento emocional é severo, impedindo atividades cotidianas;
- Há sintomas de depressão associados;
- Há presença de pensamentos autodestrutivos.
O psiquiatra pode avaliar a necessidade de tratamento medicamentoso, que, combinado com a psicoterapia, potencializa o processo de melhora e recuperação emocional.
A ansiedade é tratável, e buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de autoconhecimento e autocuidado.
Se você tem se sentido sobrecarregado(a), preocupado(a) em excesso ou com dificuldade para relaxar, saiba que há caminhos possíveis para o equilíbrio emocional. O tratamento adequado pode transformar a forma como você lida com as situações do dia a dia e devolver a sensação de controle sobre a própria vida.
Referências bibliográficas
Clark, D. A.; Beck, A. T. (2012). Terapia cognitiva para transtornos de ansiedade. Porto Alegre: Artmed.
Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório Mundial de Saúde Mental: Transformando Saúde Mental para Todos. Genebra, 2022.
Cordioli, A. V. (2019). Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed.

