É comum escutar pessoas leigas, falando que o psicólogo serve apenas para conversar, ou estudantes da área de psicologia questionarem sobre a análise psicanalítica, “é só isso? só falar?”.
No entanto, conversar e falar são dois processos diferentes. Pode parecer estranho, mas explicarei.
Conversar exige um diálogo entre duas pessoas ou mais, onde uma pessoa fala e a outra escuta, responde, rebate e etc.
Falar, e principalmente falar em análise/psicoterapia exige mais, pois não é uma troca de idéia, é sobre se implicar na sua própria fala, é falar sobre algo pertinente para si mesmo, falar é colocar algo em palavras que traduz, dê forma, significado, a alguma coisa, a um sentimento, um desconforto, situação ou seja o que for, mas significa implicar em si implicar.
Não é à toa que Lacan em seus escritos e seminários enfatizou tanto a importância da linguagem, e também foi o caminho que possibilitou Freud a construir a teoria psicanalítica, percebendo a importância da fala, a cura pela fala, como disse uma das pacientes de Breuer nos seus escritos “Estudo sobre a histeria” em 1895, que fez o Freud perceber a origem das enfermidades daquela época, e atualmente continua sendo o principal meio de trabalho do psicanalista.
Falar pode parecer simples, mas logo podemos perceber o quão difícil pode ser, pois não é raro querermos falar algo e chorarmos ao invés de conseguirmos nos expressar, também não é raro a dificuldade de traduzir em palavras o que estamos sentindo, fato que ocorre por haver uma dificuldade de simbolizar aquilo que foi vivenciado, nos impossibilitando por vezes de nomear emoções, fatos e vivência.
Por isso, falar exige um trabalho, um esforço psíquico, alivia, mas mais do que isso, revela nosso inconsciente, e essa é uma ferramenta potente que a psicanálise sabe bem se utilizar, combinando com a escuta do analista bem preparado para as demandas que aparecem na clínica, independente de quais sejam elas.
Referências Bibliográficas
FREUD, S. (1893-1895) “Estudos sobre a Histeria”. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, 1977, vol. 2.
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