Quantas vezes nos questionamos sobre determinados comportamentos que se repetem, afetos que surgem e não sabemos explicar, sofrimentos emocionais que aparentemente escapam a qualquer lógica.
Convido-os brevemente para refletir sobre os limites da razão de acordo com Jung.
Desenvolvimento
Um trecho que me chamou muito a atenção, de A Natureza da Psique de Jung, e compartilho com vocês algumas considerações e impressões...
" Por causa de tais atos de julgamento o processo dirigido se torna necessariamente unilateral, mesmo que o julgamento racional pareça plurilateral e despreconcebido. Por fim, até a própria racionalidade do julgamento é um preconceito da pior espécie porque chamamos de racional aquilo que nos parece irracional. Aquilo, portanto, que nos parece irracional está de antemão fadado à exclusão, justamente por causa de seu caráter irracional, que pode ser realmente irracional, mas pode igualmente apenas parecer irracional, sem o ser em sentido mais alto.”
Aqui Jung falando do alcance e das ilusões do racional, sem abrir mão deste, mas reconhecendo seus limites e de quebra tenciona dignificar o irracional, que via de regra tende a ser subaproveitado, desvalorizado, creio que ainda mais o fosse em seu tempo!
Algumas pitadas de "condições de possibilidade" (que me perdoem os mais afiados do que eu em Kant em caso de vacilo) de racionalidade por aí, e colocando-as à prova diante de sua aparência de racional e consequente hierarquização valorativa pelo mero reflexo de ser racional, já que racional tende a ser mais aceito que o irracional. Não que não haja motivos para algumas desconfianças, não é uma entrega acrítica a irracionalidade, mas uma proposta de relação. Aprendamos lidar com o inescapável e não meramente fechar os olhos para o irracional, para o inconsciente!
Bastante complicado, quem não mente para si mesmo vira e mexe se confronta com esses duros fatos, e quem ignora sofre sem saber...mas a proposta da clínica Junguiana e potente justamente por não negar, mas a se abrir a essas possibilidades de existir, querer promover o autoconhecimento, sempre olhando caso a caso, paciente a paciente, contextualizando o cotidiano de cada um, pois é ali onde a vida acontece em sua forma mais intensa. Enfim, nem todo mundo é igual, por mais que todos padecemos e nos deliciamos pela mesma humanidade!
Ficam algumas perguntas para refletirmos:
Onde temos sido supostamente racionais em nossas vidas, já que a aparência de racionalidade parece dar maior valor as nossas práticas de vida?
Há espaço para vivências irracionais em nossas vidas, já que estas por consequência são mais desvalorizadas?
Referências
JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2011. (Obras completas de C. G. Jung, v. 8/2).
SHAMDASANI, S. Construção da psicologia moderna: o sonho de uma ciência. Petrópolis: Vozes, 2005.




