Segundo o dicionário, perder significa ficar sem posse, sem propriedade, sem domínio de.
Quem em sua vida já não sentiu a sensação de perder o domínio de alguém ou de alguma coisa, ficar sem posse ou propriedade?
Mesmo quando nós nascemos, quando saímos de dentro do útero de nossas mães, experimentamos a sensação de perda.
Afinal perdemos aquele lugar que nos protegia, nos alimentava, perdemos o nosso aconchego.
Será que quando nascemos, ao chorarmos, já é como se tivéssemos perdendo algo em nossas vidas?
E assim segue nossas vidas, nascemos, vivemos, caminhamos, sempre perdendo algo, seja no âmbito emocional, profissional e físico.
Sentimo-nos diversas vezes perdido, ou seja, um sujeito a perder- se sempre.
É interessante percebermos a vida nas constantes perdas, mas o mais importante é termos a certeza que essas perdas são importantes para uma construção de si mesmo.
Será que perder, realmente significa sofrer dano? Ou será que perder é uma forma de resignificar algo?
Segundo Sêneca, “para atingir o fim supremo o ser humano lança mão de meios ou recursos que operam com fins imediatos. Esse relacionamento entre o agir e o fim próximo resulta de uma conformidade ou adequação que não pode fugir de referência ao fim último”. Ou seja, não podemos fugir das perdas que surgem em nossas vidas, e sim, adequar essas perdas para uma reconstrução de si mesmo.
Pessoas dizem quando perdem:
Um grande amor é perder o sentido da vida, a inspiração para viver, o prazer de estar vivo. É perder a alma gêmea, o complemento de seu próprio ser, o parceiro, o companheiro, amigo, amante, o ar que respira. Muitas outras frases são ditas no momento da perda, e no decorrer do tempo, quando ainda essa perda é significativa.
Perder o emprego, estabilidade financeira é perder a autoconfiança, a autoestima, a valorização de si mesmo, a segurança do fazer, do ir e vir. É perder a independência e passar a depender dos outros. É desnortear-se do caminho percorrido, perdendo o rumo de tudo e também o significado da vida.
A perda física, ou seja, a perda pela morte de um ente querido seja familiares, amigos e filhos. Não mais estar em contato com essas pessoas, não vê-las, não tocá-las, não ter a presença física delas é perder a força para viver. Pais que perdem seus filhos, seja de morte natural, seja de forma brutal, narram suas perdas como insuportáveis, como se tivessem amputado um membro de seu corpo. Afinal pela ordem natural das coisas os pais devem ir primeiro.
Filhos que perdem seus pais, dizem perder a referência no mundo. Perder alguma parte do seu corpo, seja seus sentidos ou a amputação de um dos seus membros, ou ainda, a plenitude de seus movimentos é estar morto para a vida, como se estivessem arrancado um pedaço de si.
A perda da juventude é quando ficamos mais vulneráveis e adquirimos manias bobas. Nossa pele fica cheia de manchas, e de repente ficamos mais tristes, e com o passa do tempo ficamos com o ritmo mais lento, ou seja, perdemos o garbo, os sonhos e os projetos de vida já não existem mais.
De qualquer forma essa dor da perda que nos apresenta, é um luto, que muitas vezes nos leva a um desespero, um desejo também pela morte. Não a morte literalmente falando, mas a morte em vida, a falta do prazer de viver.
Pois todas as perdas que sofremos ao longo da nossa jornada, nos leva a crises existenciais. Nos leva a um vazio, que muitas vezes nos desconecta da nossa própria natureza.
Por isso quando sofremos uma perda significativa em nossas vidas, precisamos de ajuda.
E a psicoterapia é um caminho, como diz Ponciano, “lidar com a situação difícil de modo não adequado significa expor-se a um risco, às vezes de difícil controle e solução”.




