Quantas mulheres você conhece que estão exaustas, mas continuam sorrindo e dizendo que está tudo bem?
Essa cena é mais comum do que parece e revela uma realidade silenciosa: a sobrecarga feminina tem se tornado parte do cotidiano, muitas vezes naturalizada e até romantizada.
As mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho, na liderança e na sociedade, mas essas conquistas vieram acompanhadas de um acúmulo significativo de responsabilidades que impactam diretamente a saúde mental.
Os dados reforçam esse cenário. Em 2024, mais da metade dos afastamentos do trabalho por transtornos mentais no Brasil foi de mulheres, com idade média em torno dos 40 anos.
Muitas ficaram afastadas por meses, principalmente em decorrência da sobrecarga física, emocional e mental. Além das demandas profissionais, grande parte das mulheres continua sendo a principal responsável pelo cuidado da casa, dos filhos, de familiares dependentes e pela gestão invisível do cotidiano. Soma-se a isso o fato de muitas trabalharem mesmo com dores físicas, lidarem com microagressões no ambiente profissional em silêncio e sentirem culpa ao priorizar a si mesmas.
Esse contexto cria o terreno perfeito para o que popularmente chamamos de Síndrome da Mulher Maravilha. Trata-se de um padrão de comportamento marcado pela crença de que é preciso dar conta de tudo, o tempo todo, e da melhor forma possível. A mulher se cobra excessivamente, tem dificuldade em dizer “não”, sente culpa ao descansar, delegar ou falhar e acredita que pedir ajuda é sinal de fraqueza.
Comparações constantes, perfeccionismo e baixa tolerância ao próprio erro também fazem parte desse ciclo. Essa síndrome não surge do nada; ela é resultado de pressões culturais e históricas que reforçam a ideia de que cuidar de tudo e de todos é algo “natural” para as mulheres.
O impacto dessa dinâmica é profundo. A autoestima é diretamente afetada pelas cobranças sobre desempenho, aparência, maternidade e sucesso profissional. Muitas mulheres sentem que nunca são boas o suficiente, o que enfraquece a confiança e limita a iniciativa para novas oportunidades.
A ansiedade também se torna constante, alimentada pela sensação de estar sempre atrasada, devendo algo ou prestes a falhar. Com o tempo, o bem-estar geral fica comprometido: a vida perde leveza, as relações se tornam mais difíceis e surge a sensação de carregar um peso invisível diariamente.
Um dos grandes desafios é que a sobrecarga emocional nem sempre é facilmente reconhecida. Muitas mulheres se acostumam tanto ao cansaço que passam a considerá-lo normal.
Irritabilidade frequente, choro fácil, cansaço que não melhora com descanso, insônia, desmotivação, dificuldade de concentração, isolamento social e dores físicas recorrentes são sinais importantes de alerta. Ignorá-los é seguir vivendo em modo de sobrevivência.
Nesse cenário, a autoaceitação surge como um pilar fundamental de cuidado. Autoaceitar-se não significa conformismo, mas reconhecer virtudes e limitações, desenvolver autocompaixão, respeitar o próprio ritmo e compreender que errar faz parte do processo humano.
Mulheres com uma autoestima mais fortalecida tendem a lidar melhor com críticas, gerenciar o estresse de forma mais saudável, estabelecer limites, manter relações mais equilibradas e agir com mais autonomia.
Prevenir o esgotamento passa, necessariamente, por ações práticas e possíveis. O primeiro passo é o autoconhecimento: reservar pequenos momentos para refletir sobre como se sente, o que gera desgaste e o que traz bem-estar. Aceitar limites pessoais e praticar diálogos
internos mais compassivos ajuda a reduzir a auto cobrança. Delegar tarefas — no trabalho e em casa — é um ato de saúde mental, assim como pedir ajuda sem culpa. Priorizar o que é essencial e abrir mão do que não é urgente ou necessário também reduz significativamente a sobrecarga.
Além disso, é fundamental reconhecer aspectos muitas vezes invisibilizados, como o impacto dos ciclos hormonais na rotina profissional, o trabalho invisível que recai majoritariamente sobre as mulheres, os desafios da maternidade para além da licença e a pressão adicional enfrentada por mulheres em cargos de liderança. Falar sobre esses temas é romper com o silêncio e abrir espaço para ambientes mais humanos e inclusivos.
Refletir sobre a exaustão feminina não é questionar a capacidade das mulheres, mas justamente o contrário: é reconhecer que ninguém deveria precisar ser uma “mulher maravilha” para ser valorizada. Sustentar uma vida saudável, produtiva e significativa exige limites, apoio e cuidado. Até quando dar conta de tudo? Talvez a pergunta mais importante seja: a que custo?






