O neurótico quer alguma coisa, mas não quer se implicar na posição de sujeito desejante.
Muitas vezes, diz que “quer mudar de vida”, mas não decide nada; ou afirma “quero me afastar de relações que me fazem mal”, mas permanece nelas. Assim, o desejo dele se confunde com a demanda do Outro — ele deseja aquilo que acha que o Outro espera. Essa é uma alienação constitutiva da neurose.
Esse desejo de “ser”, na verdade, costuma aparecer como a necessidade de ser reconhecido, aprovado e amado. É o sujeito que vive perguntando internamente: “Será que gostam de mim?”, “Será que estou fazendo certo?” ou “O que vão pensar se eu fizer isso?”.
A imagem que ele tenta sustentar depende sempre do olhar do Outro, como um ideal inalcançável — o que gera sofrimento quando sente que não é reconhecido.
Às vezes, mesmo quando recebe reconhecimento — um elogio no trabalho, um parceiro que demonstra amor, amigos que o valorizam — ele permanece preso à exigência de manter aquela imagem: “Preciso continuar sendo perfeito, prestativo, forte, inteligente... senão não serei amado.” Essa prisão no olhar do Outro impede que reconheça os próprios desejos e limites.
O trabalho analítico propõe justamente o movimento contrário: sair do desejo de reconhecimento para o reconhecimento do próprio desejo. Em outras palavras, deslocar-se da pergunta “O que o Outro quer de mim?” para “O que eu realmente quero?”. É desse ponto que começa a transformação subjetiva e o encaminhamento de uma vida menos determinada pelo olhar dos outros.




